Editora: Relógio D'Água
Ano: 2010
Introdução:
Se Brillat-Savarin tivesse escrito o seu livro hoje, não teria faltado quem pusesse no número das perversões esse gosto pela comida que ele defendia e ilustrava. A perversão é, se assim a podemos definir, o exercício de um desejo que não serve para nada, tal como um corpo que se entrega ao amor sem ter a intenção de procriar. Ora Brillat-Savarin sempre assinalou, no plano da alimentação, a distinção entre a necessidade e o desejo: “O prazer de comer exige que se tenha fome ou, pelo menos, apetite; o prazer da mesa é muitas vezes independente de ambos”. Numa época em que o burguês não sentia qualquer culpabilidade social, Brillat-Savarin serve-se de uma oposição cínica: de um lado, há o apetite natural, que é da ordem da necessidade; do outro, o apetite de luxo, que é da ordem do desejo.
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