Mais uma memória para não esquecer que dia 25 é Dia de Maracatu em Fortaleza. Desde 2006 que viajo para Fortaleza, tendo começado a observar e fotografar o desfile dos maracatus desde 2008. No dia seguinte ao desfile do ano 2009 decidi que só conheceria toda a história deste movimento, festividade, que me integrasse num grupo. Por isso, quarta-feira de cinzas desse ano tive a sorte de ter conhecido a saudosa Berê, Berenice de seu nome, que entrou em contacto com Dona Nazira Barbosa do Maractu Rei de Paus que prometeu, via telefónica, que poderia desfilar em 2010 desde que viesse com dois meses de antecedência para ensaiar. Berê teve o cuidado de me oferecer três discos com música de maracatus para aprender em Portugal. Claro que, sozinho, não aprendi a dançar a aprendi a sentir a música. Chegado a Fortaleza o meu primeiro ato foi dirigir-me a casa de Berê, e passei a conhecer toda a família. E lá combinámos a primeira deslocação, para o primeiro ensaio. Não conhecia ninguém, depois fui apresentado a Dona Nazira que me apresentou o filho Francisco José que me informou que iria ficar na corte e que olhasse para os que estavam a dançar e os imitasse. Começo a observar e reparo que nem todos dançam da mesma forma. Fui tentar entender quem devia imitar e aconteceu o melhor que me aconteceu na vida dos maracatus. Por uma questão de preparar a minha fantasia sou apresentado ao Senhor Cícero Anastácio que foi o meu verdadeiro mestre de dança e me ensinou muito do que sei. Melhor ainda ficámos amigos e de toda a sua família que continuo a ver crescer. O Senhor Cícero foi o meu salvador, meu padrinho e responsável pelas minhas fantasias, a desse ano e seguintes. Em casa do Senhor Cícero todos são artistas de carnaval e especialistas em preparação de fantasias, esposa, filhas, netos e bisnetos todos estão por dentro e muitos desfilam também. E assim comecei eu com os maracatus! E ganhei uma nova família!
Mestre Cícero Anastácio, esposa e filhos
Os maracatus são uma matéria cultural infindável. Desde a origem religiosa à prática profana, às composições musicais com regras de rigor e batida diferenciada do Recife, da evolução dos trajes e fantasias à organização do desfile, o conjunto constitui um património cultural invejável. Por isso Fortaleza já merecia um memorial que lhe fosse dedicado e contribuir para uma maior valorização, e garantir a memória para o futuro. A definição do património imaterial veio para contemplar todas estas situações.
Exemplos de garantia de futuro:
Há figurações que estão a desaparecer dos desfiles e outras às quais se dá pouca importância, possivelmente, porque não são alvo de classificação individual, mas, para o espectador dão uma nota de diminuição do sentido estético ao conjunto: os porta lanternas, os porta leques da rainha, e ainda a sombrinha/pálio da rainha. Certo que a ancestralidade do maracatu está registada e é inquestionável. O futuro parece garantido com a participação da nova geração, independentemente da ala em que participam. Possivelmente deveria fomentar-se a participação de crianças com as devidas cautelas que as suas idades recomendam.
Imagens das poucas lanternas:
Permitam-me que faça uma homenagem póstuma a um grande amigo recentemente falecido e que tanto se entusiasmava com maracatus e afoxés e por toda a cultura afro-brasileira, Wagner Pereira da Silva, Pai Wagner de Oxum, que deixa muitas saudades:
Desfile de dia 25 de fevereiro de 2017, Dia de Maracatu, com Mãe Gardénia
Desfile de dia 26 com o seu Melhor Amigo, Walden Luiz
© Virgílio Nogueiro Gomes