Bolo de Bolacha
Mais um doce que me lembra a minha infância. Desde muito pequenos que fomos, na minha geração, habituados a comer bolacha Maria. De várias formas, até em papa com fruta esmagada ainda crianças de colo a iniciar e aprender a comer. Mas tarde, e mesmo agora, não sei resistir a um atrevido e desafiante bolo de Bolacha. Certo que evoluiu muito nos últimos tempos e se criaram muitas variações na receita tradicional.
Para muitos portugueses com os quais converso, é fácil admitirem, e quase garantirem, que a bolacha Maria é “nossa”. Sempre conhecida como tal e dada a sua produção nacional e o seu grande consumo, ninguém se questiona sobre o assunto.
Início com as bolachas em forma de flor
Parece que a bolacha Maria terá nascido numa pequena padaria inglesa em 1874 para comemorar o casamento da Grande Duquesa Maria Alexandronova (1853-1920) com o Duque de Edimburgo Alfredo de Saxe-Coburgo Gota (1844-1900), segundo filho da Rainha Vitória e do Príncipe Alberto de Saxe-Coburgo Gota, e que foi celebrado com grande pompa com presença da maioria das casas reais reinantes. A bolacha, biscoito seco e de fácil confeção, tinha inscrito o nome MARIA, na face de apresentação, em homenagem á nova Duquesa de Edimburgo. Facilmente adquiri notoriedade e popularidade. Em alguns países estrangeiro, e designadamente nos de língua francesa, é conhecida por bolacha Marie.
Fatia do Site A Chefe Sou Eu
A bolacha Maria é um produto de confeção industrial e contem, basicamente, poucos ingredientes: farinha de trigo, açúcar, gordura vegetal e aroma de baunilha. Como referi atrás é um biscoito seco, espalmado de forma circular com cerca de cinco a seis centímetros de diâmetro e de cor castanho claro, e revelou-se um produto muito polivalente para o grande consumo. Ou simples a acompanhar chá, ou barradas com manteiga e ou compotas ou geleias e até sandes com marmelada. A bolacha Maria tem um papel importante na memória coletivo do povo português e a ele associado um grande peso simbólico.
Fatia do Restaurante Batefundo, Graça, Lisboa
Não sei quem terá inventado a receita, nem consigo fixar com rigor o seu início. Vou contar como se fazia em minha casa que também tinha algumas variantes. É um bolo muito fácil de fazer e que não precisa de ir ao forno.
Começava por se fazer um café de cevada que não seria açucarado, e deixava-se arrefecer. Entretanto juntava-se manteiga com açúcar e batia-se bem até obter um creme macio. Por vezes, quando havia muitas natas, também se batiam as natas com açúcar e ficávamos com um creme chantilly. Com a ajuda de uma escumadeira mergulhavam-se rapidamente as bolachas no café, cuidado para não ficarem muito ensopadas, e colocavam-se num prato de apresentação. A primeira bolacha era colocada ao centro e seguidamente outras à sua volta, habitualmente eram seis. Colocadas as primeiras bolachas em forma de flor, como se vê na foto, cobriam-se com uma ligeira camada do creme. E iam-se colocando camadas sucessivas de bolachas intermediadas por creme. No final, e com a ajuda de uma espátula cobria-se completamente o bolo com o creme e depois duas horas no frigorífico era o suficiente para poder ser servido. Hoje em dia também se faz em versão semifrio.
Fatia da Cervejaria Edmundo, Benfica, Lisboa
As variantes que também se faziam em minha casa começavam com a bolacha que, de vez em quando, era substituída por bolacha torrada. Em vez do café algumas vezes as bolachas eram molhadas com chá preto forte. O creme também podia ter pequenas variações com a adição de coco ralado ou amêndoa pisada. Atualmente para o creme vejo juntar gemas de ovo que me inspiram algum cuidado por não irão cozer. Já lá vai o tempo em que conhecíamos a galinha que punha os ovos…! Para algumas confeções nas quais não há cozedura do ovo eu recomendo a utilização de ovo pasteurizado.
Bolo montado, do Site Teleculinaria
Aqui está uma solução rápida e que pode ser tão atrativa quanto nós desejarmos com adição de outros alimentos.
© Virgílio Nogueiro Gomes
Pacote de bolacha Maria adquirido em Fortaleza, Brasil
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