Ao longo da vida tenho prezado o entendimento, a cooperação e a harmonia, fatores indispensáveis para que subsista a paz neste mundo atribulado. Sei que valho pouco, mas procuro fazer as tarefas de acordo com os ditames da minha consciência. Sou, por isso, naturista, agnóstico, ecologista, esperantista, antitabagista, anti consumista militante e … utópico. Estou firmemente convencido de que a Humanidade só singrará se houver compreensão mútua entre todos os povos, com escrupuloso respeito pelas diferenças ideológicas de cada um, mas em estrita obediência às leis cósmicas que regem o Universo.
Certo dia, uma organização internacional atribuiu-me o título de Embaixador da Paz, reconhecendo a valia dos preceitos filosóficos que venho defendendo. Vai daí, convidou-me para integrar uma comitiva a fim de visitar Israel e a Palestina. A ocasião foi soberana para tentar entender algo do que presenciámos em Jerusalém, Belém, Jericó, Mar da Galileia, Mar Morto… lamentavelmente não nos foi dado visitar a Faixa de Gaza.
No âmbito deste escrito não cabe agora detalhar a digressão nesse “barril de pólvora”, sacralizado pelas três religiões abraâmicas e que, sobretudo por isso, deveria ser terra de paz permanente. Todavia, os locais mais turísticos eram calmos e estavam recheados de comércios de recordações e relíquias (a propósito: vale a pena reler a “Relíquia” de Eça de Queirós, porque os contornos do romance mantêm atualidade) ao dispor de quem os quisesse adquirir: artísticos presépios esculpidos em madeira de oliveira, cruzes de todos os tamanhos e formatos, miniaturas de santos e santinhos, frascos de água esverdeada do rio Jordão e até coroas de espinhos para nos lembrar o martírio do crucificado. Ora, era aqui que queria chegar: as coroas de espinhos eram feitas com grande estética de ramos de buganvília e, afiançavam os vendedores que tais coroas eram, em tudo, semelhantes à que Cristo levou a caminho do calvário.
A buganvília é uma espécie nativa da América do Sul, continente descoberto meio milénio após a época em que se regista este episódio bíblico. Foi o francês Louis Bougainville quem a trouxe do Brasil para a Europa, algures no século XVIII, de onde se difundiu depois por todo o mundo de clima cálido ou temperado. É claro que uma mentira mil vezes repetida entra nos domínios da fé e acaba por se configurar verdade absoluta. Pronto, não se fala mais nisso!
A Bougainvillea sp., arbusto trepador de consistência lenhosa, está classificada na família botânica das Nyctaginaceae. É uma ornamental muito popular devido à exuberância do seu florescimento. As flores apresentam-se minúsculas e geralmente brancas, mas são as brácteas em grupos de três, de colorido vivo (vermelho, lilás, alaranjado, amarelo ou branco) que realçam a sua espetacularidade, visto que perduram por muitos meses, sempre vistosas. Os menos entendidos chamam erradamente flores a essas brácteas que, como é natural, são estéreis, visto não passarem apenas de folhas modificadas para atrair insetos e proteger as respetivas inflorescências.
A buganvília é perene e pode alcançar 12 metros de altura ou até mais, quando as condições vegetativas lhe são propícias. Por vezes, o respetivo tronco chega a ter 50 cm de espessura.
As folhas são simples, ovaladas e alternas de verde brilhante, cujo comprimento vai de 4 a 12 cm.
As flores são hermafroditas, de forma tubular, dispondo-se nas axilas das folhas ou no terminal dos ramos.
O fruto é um aquénio pentâmero, fusiforme ou cilíndrico.
Falta acrescentar que os ramos estão providos de puas afiadas pelo que os jardineiros não os podem trabalhar de mãos nuas. Foram afinal esses picos aguçados que tornaram a planta ideal para confeção das tais coroas de espinhos da Terra Santa.
Este arbusto sarmentoso e espinhoso pega bem de estaca e não requere cuidados aturados. Precisa de sol para florir abundantemente, não necessita de muita rega (chega uma ligeira, semanalmente durante o estio) e suporta o frio com exceção das geadas. Adequa-se muito bem à elaboração dos célebres “bonsais” japoneses.
Há para cima de 300 espécies ornamentais, todas nativas da América do Sul.
Os compêndios europeus nada referem quanto aos benefícios fitoterápicos da buganvília. No entanto, parece que ela é bastante utilizada no México para combater a tosse, a bronquite e a asma através da decocção das flores e das brácteas. Deve tomar-se o “chá” três vezes por dia durante 48 horas e parar durante uma semana para ver o efeito. Se persistirem os problemas, convém continuar com o tratamento até surgirem as melhoras.
Embora tal receita possa parecer de “la palisse”, achei por bem mencioná-la como componente curiosa da chamada medicina popular.
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