Há uma boa dúzia de anos trouxe de Ponta Delgada uma compota de frutos que, de todo, desconhecia. Não eram araçás, esses conhecia-os eu bem, pois o saudoso ti Manel das Doze fez o favor de me trazer da Terceira, dois pequenos araceiros para plantar no quintal. Enquanto não geou, o que aconteceu durante sucessivos invernos, fomo-nos deliciando com essa espécie de goiaba selvagem.
O tal frasco de compota tinha uma etiqueta que dizia “doce de capucha”. E sabem que andei um ror de tempo sem conhecer o que era aquilo. Por burrice, sem dúvida, pois com tantos amigos açorianos, nunca os indaguei sobre tal matéria. Agora já sei. Afinal a “capucha” é vocábulo das ilhas para “fisális”, aquele frutinho, hoje tão em moda nos estabelecimentos “gourmets”. Contudo, alquequenge tem sido, desde há séculos, o nome vulgar atribuído a esta interessante solanácea, que consta na maior parte dos tratados de fitoterapia. Depois de muito hesitar, resolvi titular este artigo por “fisális”, já que se trata da designação atualmente mais difundida. E compreende-se porquê: é deveras bastante mais fácil de pronunciar.
A Physalis alkekengi L é uma planta anual da família das Solanaceae que cresce espontaneamente nos campos de cultivo, figurando, muitas vezes, como espécie ornamental.
Nos Açores, e não só, esta herbácea é quase infestante, pois reproduz-se com excessiva facilidade. Julga-se que ela veio da América do Sul, mais propriamente da Colômbia, país em as produções atingem razoável valor comercial.
Pode chegar aos 60 cm de altura, preferindo solos calcários até à altitude de 1500 metros. O seu caule é erecto, anguloso, ligeiramente pubescente e, amiúde, ramificado. As folhas apresentam-se aos pares e são grandes, alternas, ovais-pontiagudas e pecioladas. As flores, solitárias, formam um pequeno cálice e são hermafroditas (na mesma flor encontram-se órgãos masculinos e femininos) e esbranquiçadas. Finalmente, os frutos, globulosos, mais pequenos do que cerejas, são amarelos ou alaranjados. Por vezes, fazem lembrar uma gema do ovo em miniatura. Encontram-se revestidos de uma membrana verde que, pouco a pouco, vai ficando cor de palha e quase transparente, quando o fruto amadurece. Esta característica determina que o alquequenje seja também conhecido como “planta das lanternas chinesas” ou “bexiga de cão”.
Quimicamente, refere-se um princípio ativo que é a fisalina. Possui também vitamina C, ácido cítrico, ácido málico, glícidos, pectinas e carotenos, para além de alcalóides, como é apanágio de, praticamente, todas as solanáceas.
Entre as suas propriedades, conta-se a de ser depurativa, diurética, emoliente, expectorante, febrífuga e sedativa.
Em fitoterapia, utilizam-se as folhas, essencialmente para aplicações externas, e os frutos. Estes podem consumir-se frescos, secos ou em pó.
Fleury de la Roche, em “Las Plantas Bienhechoras” (versão em castelhano), recomenda a cataplasma das folhas frescas esmagadas para aliviar as inflamações e a infusão de 50 g dos frutos secos num litro de água, para cálculos renais, hidropisia, gota e entorpecimentos viscerais.
Por sua vez, Abdelhaï Sijelmassi, em “Les Plantes Médicinales du Maroc”, advoga que os doentes com taxas elevadas de ácido úrico devem beber três chávenas por dia da decocção de 20 g de bagas secas fervidas num litro de água.
O mesmo autor aconselha prudência quando se ingere os frutos frescos, pormenorizando que não se devem comer mais do que trinta bagas por dia e jamais verdes.
A precaução deverá ser maior nos países tropicais, visto que vegetam espontaneamente cerca de meia centena de espécies “physalis”, sendo algumas bastante tóxicas.
Porém, entre nós, europeus, os sumarentos frutos da espécie “alkekengi” são apreciadíssimos em saladas de frutas e pastelaria, tendo um sabor agridoce muito delicado.
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