Há tempos, estimado amigo, também apaixonado pela botânica e pela fitoterapia, falou-me da briónia, com grande entusiasmo. Dizia ele que as bagas da briónia o tinham curado definitivamente de arreliadoras infeções cutâneas e passaram, doravante, a integrar a sua provisão de plantas medicinais.
Mais uma vez se confirma que muitas plantas tóxicas são, de facto, as mais eficazes para resolver certos problemas de saúde. Os pacientes devem, contudo, ter muito cuidado com o seu uso e evitar as aplicações internas.
Ora, as espécies “bryonia”, de que a mais conhecida e espontânea no nosso País, é a Bryonia dioica (Jacq), cucurbitácea rústica e perene que trepa, através de gavinhas, pelos arbustos que se encontram em valados e sebes, chegando a atingir três metros. A sua raiz é enorme, mastodôntica, segundo a designação da obra italiana “Il Talismano – Piante Officinali”, pois chega a pesar três quilos, o que é surpreendente numa plantinha aparentemente tão frágil. As folhas são pecioladas, palmadas e dentadas, possuindo cinco lóbulos como as da videira. As flores são pequenas, campanuladas, amareladas, dióicas (as masculinas estão separadas das femininas, em diferentes pés) e surgem nas axilas das folhas. Os frutos são bagas vermelhas do tamanho de ervilhas, muito atraentes, mas venenosas, que aparecem no outono e persistem, mesmo quando as folhas secam.
A briónia contém resinas, taninos, ácidos gordos e diversos constituintes tóxicos (alcalóides), dos quais, o mais importante é a brionina.
A planta, fundamentalmente a raiz e as bagas, possui propriedades antirreumáticas, laxantes, purgantes, diuréticas, vermífugas, vesicantes, expectorantes e reguladoras da circulação sanguínea.
A polpa da raiz e o respetivo suco servem para preparar cataplasmas que se aplicam em reumatismos, nevralgias e contusões – “Erbe Buone per la Salute” da editora italiana, Demetra.
As pastilhas homeopáticas”Bryonia alba D4” são usadas para os acessos de febre, os reumatismos musculares e articulares, o lumbago e a ciática – “Ces plantes qui guérissent”, de Robert Quinche.
O grande Paracelso, no século XVI, em “As Plantas Mágicas”, para combater inchaços da garganta, do ventre e das pernas, recomenda o seguinte: fritar 25 gramas de raiz de briónia em 2,5 dl de azeite puro, até que o preparado fique escuro. Aplicar, friccionando sobre a parte doente e em seguida, colocar uma ligadura.
Abdelhaï Sijelmassi, em “Les Plantes Médicinales du Maroc”, diz apenas que a briónia é um purgante drástico e perigoso e que 15 bagas são mortais para uma criança (40 para um adulto).
Oliveira Feijão, em “Medicina pelas Plantas”, prescreve o uso interno da raiz em pó (0,5 a 3 g).
João Ribeiro Nunes, em “Medicina Popular – Tratamento pelas Plantas Medicinais”, aponta várias mezinhas, entre as quais, para a cura da hidropisia, a asma e a bronquite, a maceração de 50 g de bagas para um litro de vinho, tomando-se duas ou três colheres diariamente, antes das refeições.
O “Manual de Medicina Doméstica” de Samuel Maia, refere o tratamento da sarna, através de uma pomada confeccionada com 5 g de raiz de briónia em pó e 30 g de banha benzoinada, para friccionar à noite, durante cinco dias.
Pessoalmente, tenho por hábito fazer uma loção de bagas maceradas em álcool a 70 graus, a fim de friccionar as partes do corpo afetadas pelo reumatismo.
Recordando, mais uma vez, que a briónia é tóxica e que, portanto, não é aconselhada para auto terapias internas, refiro um espantoso uso popular, de que tenho conhecimento: famílias da Beira Baixa cozinham os rebentos tenros da briónia e comem-nos como se como se fossem espargos. E ainda não morreram!
Miguel Boieiro
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