Ainda em ARACATI
Casario de Aracati e os meus companheiros de expedição
Em modo de continuação da última crónica sobre Aracati vou tecer umas linhas sobre mais algumas curiosidades. Compulsivo como sou em relação a livros perguntei onde haveria uma livraria, fiquei com a informação de que no Museu Jaguaribano…! Sorte a minha, e a coincidência de entrar no Café D’ Amélia e encontrar livros. E comprei de imediato “Cravos e Santas”, 2015, da autoria de Valdy Ferreira de Menezes, Editora Premius, Fortaleza. Logo na primeira badana, que eu sou de ler as badanas, prefácios e outros textos antes de entrar no livro, leio Entre realidade e ficção, um casal português aporta em Aracati, … os quais viverão entre igrejas, sobrados e costumes de uma terra distante. Este pequeno texto levou-me a comprar imediatamente. Comecei a ler logo essa noite. Apesar das insónias não consegui terminar essa noite mas no dia seguinte, já na minha cama (local onde as insónias têm mais dificuldade em me atacar) só parei quando o texto acabou.
Para quem visita Aracati este livro tem descrições fantásticas da vida local, a cheia de 1974 e uma passagem por todas as igrejas de Aracati. Eu deveria ter lido o livro antes! Mas da próxima visita já estou prevenido. Curiosamente as descrições detalhadas de Lisboa apanharam-me de surpresa! O autor deve conhecer bem as duas cidades. Claro que há uma história, ou estória, que não irei aqui desvendar. E o interessante é sentir, ou não, pelo texto com espaços reais e imaginar onde começa ou acaba a ficção. Uma história bem enquadrada onde encontramos uma paisagem quotidiana. O livro servir-me-á, seguramente, para correr as capelinhas e então ficar a conhecer as igrejas de Aracati.
Esta expedição tinha um objetivo específico que era encontrar pessoas que, de forma artesanal, produzem canjirão e tijolo, doces à base de castanha de caju, e que darão crónica específica para mais tarde. Depois de ter encontrado um artesão em Aracati, deveríamos encontrar mais dois no local com o nome de Boca do Forno. Para lá chegar, e ter melhores estradas, atravessámos Itaiçaba e depois um açude cuja água cobre, por vezes, a própria estrada. Tivemos sorte! A água do açude, oriunda do abençoado rio Jaguaribe mas por vezes tormentoso, estava quase resvés com a estrada ficando, esta, circulável. Enquanto assistíamos à preparação de canjirão por Iraci Maia Monteiro esta gentilmente nos ofereceu um biscoito (bolacha) a que chamaram de folhado. Perguntámos onde o poderíamos encontrar e lá fomos nós para o centro de Itaiçaba perguntando pela Padaria Doca. Eu entusiasmei-me foi com os biscoitos com o nome curioso de “Maria Maluca”. Já tive ouvido falar mas não tinha percebido que é um biscoito tradicional do Ceará. Por várias tentativas quis saber o porquê deste nome. Será por uma Maria, que seria maluca, mas que fazia doces tão bons? Não será, com certeza, a personagem de Maria Maluca, interpretada por Nélia Carvalho, do filme “Eu me lembro”, drama dos anos 50 a 70, com direção de Edgard Navarro, 2005.
Mas vejamos como se faz a famosa Maria Maluca que Oswald Barroso identifica como cearense, no livro “Cerará uma Cultura Mestiça, no capítulo quinto (Imagens, Artes & Ofícios) na seção culinária: Os doces populares, vendidos em ruas nas bancas, tabuleiros e outros recipientes… Há também o quebra-queixo, a maria maluca,… Possivelmente hoje já tem produção mais industrializada o que nem sempre significa perda de qualidade ou genuinidade.
Maria Maluca é pois um biscoito que hoje em dia se vende nas padarias e muitos afirmam que é a cara do Ceará. Também é conhecido por Broa de coco e Biscoito doce. Sem querer desvendar segredos, os da doçaria são mais as mãos de quem confeciona do que a indicação dos produtos e quantidades, para preparar Maria Maluca é necessário farinha de trigo fina, açúcar em menor quantidade, a mesma quantidade de açúcar de coco fresco ralado e ovos. Amassam-se bem estes três ingredientes. A Maria Maluca gosta de ser sovada à mão! Depois junta-se manteiga e incorpora-se bem. De seguida fermento para bolo, e fermento para pão. No final rega-se com leite e continua a amassar-se até obter uma massa uniforme e moldável com as mãos. Prepara-se um tabuleiro de ir ao forno, levemente barrado com manteiga e polvilhado com farinha, fazem-se bolas com a massa e colocam-se no tabuleiro distanciadas umas das outras pois a massa vai baixar e alargar. Leva-se ao formo com temperatura de 180º, o que significa que se pode fazer em casa. E temos a nossa Maria Maluca, crocante e douradinha por fora, macia e deliciosa por dentro. Para mim poderá ter utilizações variadas. A sua consistência e textura, permitem que se consuma simples bebendo café a acompanhar ou poderá também um elemento a acompanhar compotas ou doces de frutas para o lanche. Os novos chefes também a poderão utilizar para construir novas sobremesas. Fiz o ensaio como se pode ver na foto.
Bom Apetite para Maria Maluca! Viva a identidade do Ceará!
© Virgílio Nogueiro Gomes
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