O ritmo acelerado das urbanizações, em especial nos municípios das chamadas áreas metropolitanas, vai destruindo implacavelmente zonas agrícolas e vegetação endémica composta por arvoredo e mato.
É certo que hoje em dia já se delimitam áreas de lazer com seus espaços verdes, mas em regra, as árvores e arbustos lá colocados, nada têm a ver com os que anteriormente existiam. Não se plantam sobreiros, nem azinheiras, nem carrasqueiros, nem urzes, nem lentiscos, nem murtas, nos jardins das novas urbanizações. A euforia criada pelo crescimento é, em grande parte, descabida, pois, como sabemos, crescimento não significa desenvolvimento. Pelo contrário, a qualidade de vida tem tendência a degradar-se irremediavelmente se forem violados os princípios do equilíbrio biofísico. Felizmente que o problema começa finalmente a ser encarado e há cada vez mais gente a preocupar-se com a envolvente ambiental.
Estas notas são o resultado duma certa nostalgia que nos vem das recordações da meninice, quando colhíamos murtinhos por descampados e valados. Hoje isso já não é possível, pois nesses terrenos implantaram-se prédios altaneiros.
A Myrtus communis L é uma planta arbustiva mediterrânica que aparece espontaneamente nos matos e charnecas do centro e do sul do nosso país e bem assim, em toda a bacia mediterrânica. O arbusto atinge normalmente dois ou três metros de altura, possui caule bastante ramificado e folhas verde-escuras, opostas, lanceoladas e persistentes. Se a murta já é bonita no inverno com as suas folhas brilhantes, quando chega a primavera, torna-se encantadora. As florinhas brancas, salientes nas axilas da folhagem, com numerosos e compridos estames que fazem lembrar as flores das macieiras, são na verdade, espetaculares.
Pelo outono, a planta enche-se de bagas negro-azuladas, muito aromáticas e de sabor característico que fazem as delícias da petizada.
A murta contém grande quantidade de tanino e óleos essenciais (canfenol, cineol e mirtol) e ainda ácido cítrico, ácido málico, vitamina C e resinas.
As essências obtidas por destilação das folhas podem ser usadas para preparar molhos de mesa e águas-de-colónia.
A murta é muito adstringente, anti-séptica, vulnerária, sudorífica e tónica, possuindo, por isso, boas propriedades medicinais. O cozimento dos frutos (murtinhos) proporciona cataplasmas eficazes para entorses, luxações, sarna e feridas da pele. O infuso das folhas é útil para a atonia gastrointestinal, a sinusite e a constipação. O licor resultante da maceração das bagas em aguardente (três punhados de murtinhos bem maduros para 1 dl de aguardente) é um óptimo estimulante do apetite, bastando ingerir um cálice em cada refeição.
Para terminar, atrevo-me a deixar um conselho aos pais: quando forem ao campo, deixem os vossos miúdos comer à vontade os atraentes murtinhos, pois não se lhes conhecem quaisquer contra-indicações. O trabalho que poderão ter com a lavagem da roupa será bem compensado pelos benefícios resultantes da mastigação das bagas. Embora deixem a boca “grossa”, porque são de facto bastante adstringentes, a vitamina C que possuem e as comprovadas propriedades desinfetantes e estimulantes são motivos mais do que suficientes para popularizar o seu uso.
Miguel Boieiro
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